O vínculo entre mãe e filho inicia-se na gravidez e intensifica-se após o momento do parto, esperando-se ser cada vez mais forte ao longo do tempo. É aqui que a amamentação gera uma importância fucral no relacionamento entre ambos, já que o contacto pele a pele e a necessidade que é comum em nós mães de acariciá-lo durante este ato de amor é tão forte, que nos apercebemos da importância de parar e apreciar estes momentos.
Após o parto, é altamente recomendado que a amamentação se inicie na primeira hora de vida e se prolongue de forma exclusiva até aos 6 meses. A partir daí o leite materno deve ser complementado com a introdução de alimentos pelo menos até aos 2 anos. Apesar de haver uma taxa de incidência superior a 90%, verificamos que ainda existe uma elevada percentagem de abandono do aleitamento materno, logo a partir do 1º mês de vida e segundo dados da OMS menos de 40% das crianças são amamentadas em exclusivo até aos 6 meses. Por outro lado, sabe-se que a má nutrição é responsável por 1/3 das mortes em crianças com menos de 5 anos, sendo que 2/3 destas estão associadas a uma alimentação inadequada durante o primeiro ano de vida. Sabe-se também que ampliar esta prática de amamentar a nível mundial poderia prevenir 825 mil mortes anuais em crianças com menos de 5 anos, bem como 20 mil mortes anuais por cancro da mama nas mães. De facto, ainda há muito por fazer quer para apoiar as mães nesta prática, quer para promover a amamentação, mantendo sempre presente a ideia sobre os inquestionáveis benefícios relativamente a qualquer outro tipo de alimentação nesta idade.
O Leite Materno é um alimento completo e natural adequado à grande maioria dos recém nascidos, independentemente do estrato socioeconómico e que confere proteção imunológica.
Para a mãe é prático, pois não há necessidade de preparação e desinfeção de material, uma vez que o leite encontra-se disponível sempre na temperatura ideal e devidamente esterilizado. Para além disso, contribui para uma involução uterina mais precoce, reduz a hemorragia pós-parto, ajuda na recuperação rápida do corpo materno, funciona como um controlo de fertilidade (98% de proteção contracetiva nos primeiros 6 meses após o nascimento), aumenta a confiança da mãe, a satisfação e a sensação de bem-estar e promove uma ligação emocional entre a mãe e o filho, garantindo uma maior estabilidade para a criança.
Está provado cientificamente e através de estudos independentes, que as crianças que são amamentadas são mais saudáveis e apresentam um melhor desenvolvimento cognitivo, para além de estarem mais protegidas contra o aparecimento de infeções gastrointestinais (diarreias), respiratórias (pneumonias e bronquiolites) e urinárias. Sendo a diarreia e a pneumonia as duas principais causas de mortalidade infantil em todo o mundo, facilmente se entende o seu benefício para a população infantil. Por outro lado, apresentam também proteção contra algumas alergias, nomeadamente alergia às proteínas do leite de vaca, contra vírus e bactérias, e contra o aparecimento de algumas doenças crónicas como a Diabetes Mellitus tipo 2, Excesso de Peso e Obesidade, Hipercolesterolemia, Doença de Crohn, Colite ulcerosa, Doença celíaca e Linfomas, para além de apresentarem um menor risco de Síndrome de morte súbita. Para além disso, verifica-se que um tempo mais longo de amamentação está associado a uma redução de 13% do risco da criança desenvolver Excesso de peso e Obesidade e a uma redução de 35% na incidência de Diabetes mellitus tipo 2. Estudos realizados na última década confirmam o papel essencial dos bioativos do Leite Materno no estabelecimento de uma microbiota intestinal saudável na criança, rica em Bifidobactérias que está associada a um risco reduzido de infeção na infância, bem como de doenças crónicas na idade adulta.
Motivos que levam as mães a não amamentar
Através da minha experiência e de um estudo abrangente realizado com mulheres que abandonaram a amamentação antes dos 6 meses de idade do bebé, verifiquei que os principais motivos apontados pelas mães para o abandono da amamentação eram bastante subjetivos, como por exemplo dizerem que “o bebé não ficava satisfeito” (61,1%), “tinha pouco leite” (44,4%) e “o leite era fraco” (41,7%). A razão mais objetiva, nomeadamente, a má progressão ponderal, é referida por apenas 22,2%.
Outras razões apontadas são: o facto do bebé não conseguir mamar, dos mamilos ficarem gretados/sangrantes/doridos, do bebé não aumentar de peso, da mãe regressar ao trabalho, da mãe ficar doente, ou a pedido do marido. Relativamente à decisão de introdução de leite adaptado, 80,5% foi influenciada pelo médico assistente, 38,9% foi exclusiva da mãe e 11% sugerida por algum familiar.
Outros problemas podem estar associados ao abandono desta prática, como é o caso do ingurgitamento, de mamilos dolorosos e/ou com fissuras, bloqueio dos ductos (caroços nas mamas) e mastite. Contudo, estas situações podem ser prevenidas e mesmo tratadas, deixando de ser motivo para o abandono do Aleitamento Materno. Há no entanto casos em que não é aconselhada a amamentação, seja temporariamente, em casos de doenças infeciosas na mãe, como varicela, herpes com lesões mamárias, tuberculose não tratada ou mães a tomar uma medicação imprescindível, ou de forma definitiva como é o caso de mães com doenças graves, crónicas ou debilitantes (mães infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH), mães que precisem de tomar medicamentos que são nocivos para os bebés e ainda bebés com doenças metabólicas raras como a fenilcetonúria e a galactosemia). Porém, mesmo nas mães com VIH o risco de transmissão do vírus para o bebé pode ser reduzido através da toma de antiretrovirais (ARV).
EDUCAÇÃO PARA A AMAMENTAÇÃO
Sou uma defensora da importância de Sessões de Educação sobre a Amamentação para todas as grávidas e mães com vista a esclarecer alguns mitos e, desta forma, tentar evitar a decisão de não amamentar ou o abandono desta prática, que muitas vezes ocorre por falta de informação. Ocorrida a decisão de amamentar, o estabelecimento da lactação tem sido um ponto importante para o sucesso do Aleitamento Materno. O trabalho de parto, o parto e o pós parto, são práticas importantes para manter a decisão, possivelmente já tomada. Além disto, é importante focarmo-nos no suporte da amamentação. É necessário que a mãe perceba que a duração da mamada ou o intervalo entre elas não é importante, pois a maior parte dos bebés mama 90% do que precisa em 4 minutos, sendo que outros demoram 30 minutos ou mais. O importante é perceber se o bebé está realmente a mamar ou se está a utilizar a mama apenas como "chupeta", o que pode criar fissuras nos mamilos e levar a mãe a desistir de amamentar. Inclusivamente, o horário não é importante e numa primeira fase, a mãe deve amamentar nas primeiras 4 a 6 semanas com alguma insistência (sem definir "horários") e posteriormente apenas quando a criança pedir, seja de dia ou de noite, pois mama em função das suas necessidades e vai começando por estabelecer aos poucos os seus próprios horários.
Como especialista em amamentação recomendo prolongar o período de amamentação o maior tempo possível. Portanto, o leite ingerido pela criança até cerca de 4 anos pode e deve ser circunscrito ao da mãe e por isso, sem a necessidade de introdução de formula infantil ou leite de origem animal.
- Menor incidência de alguns tipos de cancro infantil
- Maior desenvolvimento intelectual
- Melhor relacionamento entre a criança e os pais durante a adolescência e melhor saúde mental na vida adulta
Os mamíferos desmamam quando as suas crias triplicam ou quadruplicam o seu peso de nascimento. As pesquisas indicam que o desmame nos grandes mamíferos (incluídos os primatas: macacos, chimpanzés, gorilas e o homem) ocorre alguns meses depois que o peso de nascimento dos filhos quadruplica. O lactente quadruplica o seu peso em torno dos 30 meses (pode variar em cerca de 3 a 6 meses).
Desmame em função da duração da gestação
Entre as espécies de primatas de grande porte, a duração do período de amamentação materna excede amplamente a duração média do período de gravidez. Para os primatas mais próximos da espécie humana, o chimpanzé e o gorila, a duração da amamentação é superior em mais de 6 vezes a duração do período gestacional. É de conhecimento científico que compartilhamos mais de 98% do material genético com os chimpanzés e gorilas. Utilizando este critério, a idade natural do nosso desmame seria entre os 4 e 5 anos de idade– 6 vezes a duração da gravidez.
Desmame em função das erupções dentárias
De acordo com estudos, muitos primatas desmamam quando irrompem os seus primeiros molares permanentes. Nos seres humanos, isso acontece entre os 5 e 6 anos. Os dados disponíveis sugerem que as crias humanas estão desenhadas para receber todos os benefícios do aleitamento durante um período mínimo de 2 anos e 6 meses e um aparente limite máximo de 7 anos.
A amamentação é uma fonte potencial de benefícios, presentes e futuros. Sem dúvida que o mais importante é que todas as mães e famílias se sintam incluídas e respeitadas pelas decisões que tomam. A rejeição social que as mulheres enfrentam quando decidem amamentar após dois anos de idade não é apenas absurda, também contradiz tudo o que se pretende obter com as "campanhas" de normalização da amamentação.
Que post incrível Delta ��
ResponderExcluirOlá Delta
ResponderExcluirSe eu tivesse te conhecido antes de ouvir o que o médico disse, não teria nunca parado de amamentar a minha filha! 3 semanas após ter deixado de a amamentar ela ficou doente com pneumonia �� as palavras da enfermeira foram parecidas com as tuas. Nunca mais foi igual e passa a vida doente! Mamãs não parem de amamentar os vossos filhos muito menos se for porque o médico acha que o vosso leite não é suficiente!!! Beijinho a todas e muita força!
Impossivel ficar indiferente a este texto
ResponderExcluirParabens
Mais um contributo seu para a informação de todas as mulheres que pretendem ser mães, grávidas e já mães! Não tinha ideia da informação dos estudos sobre o desmame nos animais! Faz todo o sentido! Muito obrigada
ResponderExcluirObrigada por este post ❤️
ResponderExcluir