Sempre ouvimos dizer que a aplicação de protetor solar é obrigatória. Se numa primeira fase da nossa vida, este era sinónimo de idas à praia ou de tardes passadas na piscina com os amigos, com a idade adulta, o filtro solar ganhou uma periodicidade diária, em especial no rosto. No meio de tantos alertas, a mensagem que ficou registada no nosso cérebro foi: não aplicar protetor solar pode resultar em cancro da pele. Quando confrontados com um destino tão fatal, a nossa tendência é a de aplicar e de voltar a aplicar filtro solar, principalmente quando estamos na praia.
Este instinto protetor só é revelado em relação ao nosso bem-estar físico. O impacto que as nossas escolhas têm nos mares e na vida marinha não costuma ser equacionado. O caranguejo Sebastião, no filme A Pequena Sereia, cantava que no mar estavam todos contentes, para dissuadir Ariel a ir para a superfície. Mais, no filme de animação da Disney eram utilizados argumentos como a escravatura e a exploração de recursos sem consciência. O que Sebastião não refere (por uma questão temporal), mas de que hoje cada vez temos mais conhecimento, é o impacto nocivo que a exploração humana está a ter no meio ambiente.
Focando-nos nos oceanos, certamente já ouviste falar na Ilha do Lixo, no oceano Pacífico, que, segundo estimativas, pesa 80 mil toneladas. As campanhas de sensibilização para a limpeza das praias são praticamente permanentes na zona costeira de Portugal. Não é difícil encontrar iniciativas de voluntariado, tanto espontâneas como lideradas por instituições como a Associação Portuguesa do Lixo Marinho, ao longo de todo ano, mas com mais incidência durante a época balnear para estimular o civismo na praia.
Alguma vez pensaste que mesmo tendo uma conduta exemplar nos areais, podes estar a prejudicar os oceanos? Mais, que podes estar a prejudicar os ecossistemas marinhos ao mesmo tempo que fazes algo para te protegeres a ti próprio? Segundo vários estudos, certos ingredientes presentes nos protetores solares estão a promover o branqueamento e a destruição de corais. Craig Downs, diretor executivo do Laboratório Haereticus Environmental (organização científica sem ns lucrativos), foi um dos vários a estudarem este fenómeno, na costa do Havai, para sermos mais específicos. Numa entrevista à rádio local do estado norte-americano, em Junho de 2016, Downs aborda questões sobre a investigação no terreno e diz que algo que lhe despertou a atenção logo no começo da observação foi o brilho da água. «Repare no brilho da água, parece quase gasolina. Isso é por causa dos protetores solares», constatou na entrevista.
Apesar de o brilho ser o único aspeto visível – porque está mais à superfície –, os efeitos no fundo do mar são preocupantes, nomeadamente nas faixas de corais. Tudo é despoletado pelo aquecimento das águas: o aumento da temperatura é altamente prejudicial para o processo simbiótico dos corais e das algas que promovem as suas cores e a sua subsistência. Este aquecimento é causado pelas alterações climáticas e, como comprova a investigação de Downs, por um ingrediente que, normalmente, está presente nas fórmulas dos protetores solares: a oxibenzona.
«É um dos compostos químicos que servem como filtro da radiação ultra- violeta; é o que faz bloquear a radiação solar em contacto com a pele. É um filtro solar que reage com os raios ultravioleta, neutralizando-os e evitando que estes reajam com a pele», explica Cátia Curica, farmacêutica e co-proprietária da marca de cosmética biológica Unii.
Não é só o mar que está em risco
A oxibenzona e outros compostos químicos como o octinoxate não só são prejudiciais para a vida marinha mas também podem sê-lo para a vida humana. «Eles são absorvidos pela pele, tendo sido encontrados na urina, no sangue e até no leite materno. Além de causarem problemas como a desregulação endócrina, interferem na tiróide, com toxicidade na reprodução e no nosso desenvolvimento, mas também as partículas – radicais livres – que se formam depois da reação com os raios ultravioleta são potencialmente perigosas e têm vindo a ser descritas como potenciais causadoras ou agravantes de cancros da pele», conclui Curica. Várias regiões têm legislação para proibir a utilização de produtos com estes ingredientes nas suas praias, de forma a preservar as faixas de corais. Ao Havai, já aqui mencionado, junta-se o Palau na aplicação destas normas, com alguns países, como o México, a estabelecerem regras de controlo apertadas.
De forma a nos protegermos e a protegermos os oceanos e a vida marinha em simultâneo, devemos escolher produtos com «filtros solares físicos – isto é, partículas minerais como o óxido de zinco ou o dióxido de titânio, que não são absorvidas pela pele (se não forem do tamanho de nanopartículas). Ficam à superfície e refletem os raios ultravioleta como se fossem um espelho», aponta Curica. Além de não serem absorvidos pelo organismo, estes ingredientes estão presentes em fórmulas biodegradáveis, não tendo um impacto negativo no oceano. «Cosmeticamente, não são tão agradáveis [quanto os filtros químicos], porque são produtos geralmente mais difíceis de espalhar na pele. No entanto, são considerados igualmente eficientes», afirma Joana Dias Coelho, médica dermatologista. Para facilitar a escolha de produtos que se coadunem com estes princípios, procure um selo ou uma indicação na embalagem, como por exemplo o selo Ocean Protect nos protetores solares da Caudalie.
Não devemos esquecer-nos de que os cremes com filtro solar não são a única forma de proteção dos raios UV, principalmente quando estamos na praia. A roupa protetora de radiação ultravioleta é muito importante, principalmente nas crianças e em quem pratica desportos ao ar livre. A sombra também é tua amiga, principalmente nas horas mais críticas da exposição solar.
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